segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Res novae


"Carpe diem quam minimum credula postero
Tu ne quaesieris, scire nefas, quem mihi, quem tibi
finem di dederint, Leuconoe, nec Babylonios
temptaris numeros. ut melius, quidquid erit, pati.
seu pluris hiemes seu tribuit Iuppiter ultimam,
quae nunc oppositis debilitat pumicibus mare
Tyrrhenum: sapias, vina liques et spatio brevi
spem longam reseces. dum loquimur, fugerit invida
aetas: carpe diem quam minimum credula postero."

(Quintus Horatius Flaccus)


"Colhe o dia, confia o mínimo no amanhã
Não perguntes, saber é proibido, o fim que os deuses
darão a mim ou a você, Leuconoe, com os adivinhos da Babilônia
não brinque. É melhor apenas lidar com o que se cruza no seu caminho
Se muitos invernos Júpiter te dará ou se este é o último,
que agora bate nas rochas da praia com as ondas do mar
Tirreno: seja sábio, beba o seu vinho e para o curto prazo
reescale as suas esperanças. Mesmo enquanto falamos, o tempo ciumento
está fugindo de nós. Colhe o dia, confia o mínimo no amanhã."
(Horácio)

Querem saber, de verdade? Cansei dessa babaquice que virou o Carpe Diem. Com certeza o Horácio se mataria se visse o que virou sua filosofia mais conhecida (assim como reza a lenda que fez Santos Dummond, depois de ver que seus aviões estavam sendo usados na guerra). Carpe Diem hoje é o símbolo da molecada, o símbolo de rebeldia, de revolução, de curtir a vida, simples, fácil e rapidamente.

Não, meus futuros. Carpe Diem não é nada daquilo que aquele hipponga, com camiseta do Che Guevara, All Star e boina te disse. "Carpe Diem: colha o dia. Isso mesmo, companheiro, aproveite esse momento. Faça o que te vier na cabeça. Ame todos que tiver que amar. Experimente o que quiser. Com certeza a consequência será a felicidade". Certamente ele não sabe que esse termo faz parte do texto de um filósofo. Se souber, ele não sabe que é do Horácio. Se souber, ele ainda acha que é o dinossaurinho da "Turma da Mônica". Por que não é possível que alguém pense que uma pessoa em sã consciência diria que ser inconsequente é ser feliz, somente um dinossaurinho de braços curtos.

Horácio deixa muito claro: "É melhor apenas lidar com o que se cruza no seu caminho". Isso! Ele estava falando do Carpe Diem: Colher o dia, colher o que o dia tem para te dar, independente se bom ou ruim. É muito fácil dizer que você pode fazer o que quiser e que isso te fará feliz, é conveniente. Difícil é fazer entender que é possível ser feliz com o que se tem também, ora! Quando tiverem a oportunidade, pupilada, leiam o texto sobre o
René - O Taxista. Resumidamente é assim: dois taxistas, a mesma cidade, um é feliz e bem sucedido, o outro não. Essa é a idéia: o René sabia lidar com o que sua simples vida tinha para, sabia colocar um sorriso no rosto, mesmo não sendo tão rico quanto sua clientela. Ele sabia colher o dia, que ele cultivava com cuidado e sabedoria. Como consequência a tal crise financeira não batia a sua porta.

"Tirreno: seja sábio, beba o seu vinho e para o curto prazo, reescale as suas esperanças." Seja sábio! Saiba o que escolher. Nem tudo que você pode fazer te fará de fato bem. "Beba seu vinho", não deixe de fazer o que para alguns parece errado se isso te fará feliz, mas também não invada o espaço de ninguém. Esse é o grande problema: o Carpe Diem se transformou num pensamento egoísta. Faça o que VOCÊ tem vontade independente do que vai acontecer com os outros. Correto... seja um "revoltado", beba até perder a noção, quebre algumas vidraças, seja preso, fuja da cadeia, coloque uma mochila nas costas e vá para o Acre, onde ninguém vai te encontrar e você vai poder viver uma vida longe do capitalismo selvagem, com seu singelo trabalho de seringueiro. Se isso te faz feliz, boa, mas não esqueça de todos que vão sofrer: seus parentes, o dono da vidraça, o policial que vai ter que te dar umas borrachadas e os pobres acreanos que vão ter que te aguentar, achando que lá só existem seringueiros.

Em nenhum momento disse sobre mudança. Mudanças são boas. Mas nem todas elas surgiram de idéias inconsequentes, muito pelo contrário. Vamos deixar as “filosofias de Power Point” de lado e começar a pensar mais, para não ficar correndo atrás do vento. Cuidado, até mesmo com esse texto.

"Carpe diem quam minimum credula postero". Viva o hoje, colha os frutos de cada novo dia, com tudo que ele tem para te oferecer. Não deixo-os apodrecer. Como se cada momento fosse o último, como se a vida te desse cada um deles de presente e não tente arrancar a força dela, como se fossem só seus.


"Há sempre algo acontecendo" (Sócrates do filme "Peaceful Warrior")


PS: Nada contra Acre e seringueiros, só uma figura de linguagem ;-]

PS 2: Nada contra o Che Guevara, até curto ele.

2 comentários:

Anônimo disse...

É uma página fadada ao sucesso das boas leituras.





Pelo menos até que se incomodem com o tanto que as palavras os fazem pensar.

prika disse...

Sem dúvida.. até agora, esse é o meu favorito!